Programar o próprio futuro
Jovens com histórias diversas viram na tecnologia uma chance de escrever novos capítulos de suas vidas

Era o verão de 2022, atravessava-se uma pandemia e, com ela, uma série de fenômenos chacoalhou o mercado de desenvolvimento de software em todo o mundo, mas particularmente no Brasil. A realidade do home office e a possibilidade de se trabalhar para países estrangeiros, somada à forte desvalorização do Real frente ao Dólar e ao Euro naquele período provocaram uma “fuga de cérebros” de desenvolvedores para trabalhos no exterior. Ao mesmo tempo, disseminaram-se uma série de propagandas na internet e em podcasts com o mote “Vire programador e comece a ganhar muito bem em pouco tempo”.
Àquele momento também Simoa se via com a demanda de crescer, mas profissionais experientes "saíam” do país, enquanto cursos ofertavam uma formação voltada a nichos de atividade que não encontrava eco nas inovações que Simoa implementava.
Foi nesse cenário que Simoa tomou a decisão de investir na criação do seu próprio núcleo de formação de desenvolvedores.
O programa inicialmente funcionou da seguinte forma: Durante seis meses, os trainees receberiam uma bolsa e tinham como única responsabilidade aprender o máximo possível sobre linguagens de programação como HTML, CSS, Javascript, React e Next.js. Ao final desses seis meses, ou mesmo antes, aqueles que atingissem uma nota de corte suficiente para iniciar os trabalhos em produção, eram efetivado no cargo de Desenvolvedor Front-end Jr.
Sabíamos que não seria um processo rápido, mas tínhamos a convicção de que deveríamos fazer um processo bem feito. Uma formação que pudesse capacitar pessoas para trabalhar aqui, ou ter conhecimento suficiente para disputar qualquer vaga no mercado.

Eric Mantoani, diretor executivo da Simoa.

Em 2025, com três anos de programa de trainees e três turmas, mais de 50% da equipe da Simoa é oriunda do programa e as pessoas tiveram suas vidas transformadas.
O sucesso do programa se credita a vários fatores, mas fundamentalmente ao perfil dos selecionados: Espelhando a própria história dos membros do time que então formavam a equipe, optou-se por escolher pessoas que demonstravam real interesse em aprender uma profissão que os permitisse mudar de vida. Independente de experiência prévia na área.
Antes de entrar para a Simoa, Patrícia foi fiscal de caixa de supermercado, Gui era pizzaiolo, Caio tinha sido motoboy, Lara foi recepcionista, Débora foi diarista e os irmãos David e Alan trabalharam para a prefeitura nas obras de calçamento de rua.
Para pegar uma turma com vidas diferentes, com contextos diferentes e fazer dar certo é importante entender o que cada um está vivendo naquele momento. É adaptar a intensidade do treinamento para esse momento.

Peterson Passos, um dos idealizadores do programa da Simoa
Apenas parte dos integrantes do programa de trainees da Simoa tiveram algum contato prévio com o universo da tecnologia por meio de programas público de inclusão digital. Um exemplo é o programa “Conexões Periféricas”, da Prefeitura do Recife, que é gratuito. A partir de programas dessa natureza, os jovens conseguiram acessar o trainee da Simoa e a mudança de qualidade de vida foi rápida.
O valor da bolsa de estudos já era o maior salário que eu tinha recebido. A possibilidade de dobrar esse valor em seis meses foi um importante combustível pra que eu me dedicasse e pudesse realizar o sonho de me tornar programador

Caio, participante do programa da Simoa
Maria Elisa

“Eu cresci numa cidade vizinha de Recife, chamada Camaragibe, no bairro Dos Estados, popularmente conhecido como ‘Buraco Fundo’. Sua fama se estabelece devido ao seu aspecto geográfico para ser acessado, parece um buraco fundo (…) uma zona periférica marcada pela pobreza e majoritariamente composta por pessoas negras.

Maria Elisa, participante do programa da Simoa
Maria Elisa nasceu em Pernambuco e teve que trabalhar muito para conquistar a própria independência.
Meu primeiro emprego foi como vendedora da Claro, de porta em porta. Foi antes da minha transição então tive que lidar muito com o público. Odiava ter que me apresentar várias vezes no masculino e com o meu nome antigo, sem falar de ter que andar bastante no sol quente pra conseguir uns trocados. Nessa época eu estava no último ano da escola e precisava ajudar em casa.
Maria Clara

Maria Clara conta que entrar na Simoa foi um divisor fundamental na vida, pois abriu uma janela que ela mesmo não via que existia.
A área de Tecnologia da Informação nunca nem havia passado pela minha mente como possibilidade de atuação profissional. Então, refletindo a trajetória até aqui, considerando o que eu sabia meses atrás, e o que eu consigo fazer agora, eu me sinto capaz de aprender qualquer coisa. Receber apoio e incentivo dos colegas foi o que possibilitou e possibilita a evolução nesse processo de aprendizagem, que é contínuo.

Maria Clara, participante do programa da Simoa
Na Simoa, ela consegue potencializar as suas habilidades de estudo e dar vazão para a sua criatividade.
Lucas

Lucas cresceu em Teixeira de Freitas, Bahia, e fez um tratamento longo contra a depressão e para melhorar a autoestima, que ficou abalada por longos períodos de dificuldades financeiras.
Minha mãe sempre foi dona de casa, quando não, fazia faxina para famílias. Meu pai, assim como meu avô, foi policial militar durante toda vida. Minha família era bem humilde, mas meus pais sempre nos incentivavam ao estudo, como também a vida religiosa protestante.

Lucas, participante do programa da Simoa
Com o trabalho estabilizado na Simoa e uma renda melhor, ele projeta sonhos para o futuro, como viajar com a família, aprimorar o condicionamento físico e treinar jiu-jitsu com o filho que tem 8 anos e adora o esporte.
Vitória

Vitória é do Recife e fez o programa Conexões Periféricas antes de entrar na Simoa. Sua mãe era empregada em casa de família e não se lembra quase nada do pai. Quando criança, brincava muito de escolinha e tinha o sonho de ser professora ou médica. A área de tecnologia representa uma grande possibilidade de novos sonhos e realizações.
Sempre tive sonho de fazer faculdade. Ninguém da minha família tinha feito antes, fui a primeira a conseguir ingressar no Ensino Superior.

Vitória Régia, participante do programa da Simoa
No programa de trainees da Simoa, ela conseguiu superar suas inseguranças com autoestima.
Ao mesmo tempo que eu pensava que seria uma oportunidade de mudar de vida, eu tinha muita insegurança por julgar como algo muito difícil. Hoje, porém, considero minha autoestima muito boa, principalmente em relação a aprendizagem. Me sinto capaz de resolver problemas e também de aprender muito mais.
Débora Vitória

Débora Vitória nasceu no Amazonas e estava em Goiás, trabalhando em um frigorífico antes de ingressar no programa de trainees da Simoa. O começo do programa foi cheio de novidades porque, até então, ela nunca tinha estudado de forma online na vida. “Fui aprendendo e me adaptando”.
A receptividade da turma e o apoio dos colegas, segundo a Débora, foi fundamental.
Fui pareando com todos e tirando dúvidas. Me sentia bem, porque sempre vinham palavras de apoio. O time me lembrava que por ser algo novo, com o tempo eu iria pegar o ritmo e dominar todos os temas, e assim mesmo que aconteceu.

Débora Vitória, participante do programa da Simoa
Hoje, Débora celebra ter conseguido se mudar para o Rio de Janeiro e trabalhar remotamente.
Projeto
Programa de Trainees Simoa
Ano