A engrenagem invisível da Cultura

Arquitetura leve, alta performance: os fundamentos do sistema que impulsionou a TV Cultura na internet.

Em 2014, a Fundação Padre Anchieta vivia um momento de transição. Com décadas de produção cultural, educativa e jornalística, a instituição — mantenedora da TV Cultura, TV Rá-Tim-Bum, UnivespTV, Cultura FM e Cultura Brasil — buscava formas de dinamizar sua operação editorial, reduzir trabalhos manuais e aprimorar sua presença no ambiente digital. Era necessário modernizar os fluxos de produção e publicação sem perder o cuidado e a profundidade que sempre marcaram sua trajetória.

Foi nesse cenário que nasceu um projeto que mudaria os bastidores técnicos da emissora no que tange à publicação de conteúdo na internet. Eric Mantoani, à época coordenador de desenvolvimento da Fundação, estruturou sobre um publicador autoral, chamado Simoa, o sistema que não apenas automatizou processos e reduziu gargalos operacionais — ele antecipou uma nova forma de pensar tecnologia em emissoras públicas. O impacto foi tão significativo que, mais tarde, o nome daquele publicador daria identidade à empresa que consolidaria esse modo de fazer: a Simoa.

A TV Cultura estava evoluindo no fluxo de programação nas redes sociais e no YouTube. A Engenharia tinha muito conhecimento no fluxo broadcaster, mas pouco em publicações digitais. Era preciso interligar todas as torres de produção e exibição em um fluxo orquestrado e automatizado.

Gilvani Moletta, diretor de Engenharia e Operações da emissora.

A solução criou um elo invisível entre redações, estúdios, arquivos e plataformas de distribuição. Conteúdos antes publicados manualmente, em processos longos e suscetíveis a falhas, passaram a ser disponibilizados de forma automatizada e auditável. O sistema centralizou dados, estruturou metadados, garantiu consistência editorial e ofereceu segurança para que a Fundação respondesse com mais velocidade às demandas do ambiente digital.

Com a evolução do projeto, os fluxos operacionais foram otimizados, superando as expectativas iniciais. A estruturação de um banco de dados centralizado facilitou a integração entre os sistemas e melhorou a confiabilidade dos processos.

Gilvani Moletta

Programas como Roda Viva passaram a ter seus episódios publicados ainda durante ou logo após a transmissão. O engajamento nas redes aumentou. A presença digital da Cultura se intensificou. E conteúdos históricos, como a célebre fala de Caetano Veloso no programa Vox Populi, tornaram-se ícones da cultura digital brasileira — reverberando em memes, reinterpretações e compartilhamentos em todo o país.



O projeto trouxe escalabilidade, segurança da informação e uma gestão de dados mais eficiente e responsável. A TV Cultura se tornou mais ágil e capaz de responder às demandas do público e do mercado.

Gilvani Moletta

Além do ganho operacional, o sistema consolidou um modelo técnico então raro na administração pública: arquitetura modular, documentação robusta, integração com sistemas legados e foco total na experiência de quem publica — jornalistas, editores, produtores e equipes de conteúdo passaram a contar com uma ferramenta que não impunha barreiras, mas facilitava seu trabalho.



A proposta técnica por trás do publicador Simoa já trazia, desde sua origem, uma filosofia clara: sistemas devem ser robustos, leves e silenciosos — construídos para servir ao conteúdo, e não competir com ele. Foi essa mentalidade que orientou o trabalho realizado na TV Cultura: uma solução desenhada para entregar desempenho com baixo consumo de infraestrutura, respeitando os fluxos de trabalho das equipes editoriais e oferecendo estabilidade em uma operação diária de grande volume. A aplicação dessa abordagem nos bastidores da Fundação Padre Anchieta não apenas provou sua eficácia, como também consolidou um modo de pensar tecnologia pública — baseado em eficiência, clareza e respeito ao usuário.


Tínhamos à nossa disposição apenas dois servidores dedicados (on-premises), e um era backup do outro. Para atender milhões de acessos durante um ‘Roda Viva’, por exemplo, o cache nativo de Simoa foi fundamental para servir conteúdo sem sobrecarregar as máquinas. O que o mundo acessava eram apenas arquivos estáticos, o que promovia ao mesmo tempo desempenho e segurança: É impossível atacar ou injetar conteúdo num servidor somente-leitura

Eric Mantoani, arquiteto do projeto e atual diretor executivo de Simoa


Passada mais de uma década, a estrutura implementada segue operando, ainda viva, ainda relevante. Mais do que uma solução técnica, aquele projeto representou um gesto de cuidado com o que a Cultura representa — e uma declaração de princípios sobre como a tecnologia pode servir ao conteúdo, à memória e ao interesse público.

Instituição

TV Cultura

Projeto

Publicador Simoa

Ano

2014 -